Saio pela porta, desço as escadas,
dobro o prédio, caminho, navego, pela calçada rumo à escola.
Nada trago na mochila, mala, sacola
que não seja a pauta e a viola.
Troco os lápis do estojo pelas cordas
os livros da mala pelo instrumento
caminho pela rua com um passo estudado
e lento.
Pelo caminho observo aves verdes, não
naturais de Portugal
fazendo ninhos onde outrora havia
quinta e olival.
Por vezes aos pares, como namorados,
passam por cima de mim
e é ai, bem lá no alto, olhando o
asfalto, que sinto falta de ti.
Tento libertar-me pela escrita, mas até
as palavras estão presas ao papel.
Com a calçada fria, o sol a bronzear-me
a testa e os pinheiros que libertam o pólen dourado pelo sol
vejo carros, autocarros, motas e
bicicletas, pouca gente anda a pé.
As verdes criaturas voadoras estão
agora longe e eu mais próximo de transpor as grades, grades estas que
vêem noite e dia a zebra ser atropelada, pisada.
Grades estas que não guardam, nada
fazem.
É aqui que a viagem termina, é aqui
que em comunhão com o resto da tripulação passo quatro a cinco
horas por dia, cinco dias por semana.
É aqui que o rio do conhecimento nasce,
é aqui que eu deixo para trás o barco e me entrego à corrente.