quinta-feira, 15 de julho de 2010

Paixão?

Já não falamos há muito tempo.
Quando digo falar refiro-me as conversas mais normais que havíamos tido.
Já não falamos.
Mas falo dela, gosto dela, e sei que ela ainda gosta de mim.
Se “almas gémeas” é uma coisa que existe, então eu descobri a minha. Tudo apontava na direcção certa, tudo parecia perfeitamente harmonioso, de certa forma sinto que estávamos ligados, não fisicamente. E com esta ausência de palavras entre nós sinto que o que havia simplesmente se desfez nas águas do tempo.
Ate há bem pouco tempo, beber água ou vinho do porto era a mesma coisa, a água tinha um doce especial, um cheiro mais intenso que o costume, uma cor só vista por nós.
Sim, eram dias felizes, os erros cometidos não eram nada, os dias que ficávamos acordados a falar parecia não nos cansar.
O tempo parecia estático, as nuvens não se mexiam, os cabelos não se moviam com o vento, os beijos não acabavam.
Amava-a, amo, ah já não sei.
Vejo a sua face quando olho ao espelho, preciso dela.
Tal como a caneta precisa da mão.
Deito-me do lado direito da cama, voltado para o seu lado, talvez á espera de a ver deitar-se.
Sonho com ela.

Como é difícil saber que se pode ter algo mas não o ter

Lá fora o vento corria pelas ruas, os pássaros habitavam os seus ninhos, um frio característico marcava a época.
Uma família passeava pelas ruas, todos eles bem vestidos de forma a aguentar as baixas temperaturas.
Uma família de brasão, mas especificamente aquela que alberga a águia e o escudo.
Era a noite de antevéspera de natal, na estrada tal como no passeio uma fina camada de neve cobria os dias anteriores.
Tudo parecia propício á magia do natal, certas luzes em certas árvores, bonecos de neve nos quintais, as lareiras sempre acesas, a família reunida.
Passaram por uma loja, na montra estava uma pistola de brincar, uma de fulminantes, o rapaz gostou dela.
Todos seguiram, uns 4 ou 5 metros mais á frente o pai disse para o rapaz:
-Toma, vai comprar se conseguires.
Assim ele fez, pegou na nota e foi a correr em direcção á loja.
Mas esta estava fechada. Voltou para junto do pai entregou o dinheiro, e a sensação ficou com ele.
Ainda a tem na memória, tudo naquele dia parece fortemente presente, os cheiros, a temperatura, o que sentiu quando percebeu que tinha sido gozado, o que sentiu depois de saber que podia ter o que não teve.
Tudo por uma questão de horas.

A fonte secou

Deito-me sem nada na cabeça.
Há quem diga que é quase impossível, mas que quem consegue, levita, ou entra em contacto com Deus.
Tal como no clímax de uma relação sexual.
Incomoda-me profundamente saber que não beberei muito mais desta água, mais ainda me incomoda o facto de não saber o que fazer para que chova.
O poder da sensação de impotência assume agora o papel de personagem principal.
Lá fora o vento não insufla, cá dentro a pena não escreve e o autor faz uma pausa, de toda a tecnologia hoje utilizada.
Bendito seja o descanso e a paz.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

What realy means?

Naquela tarde de Verão lá estava eu a pensar sobre algo que aparentemente não é importante.
O que realmente significa isto? e aquilo?
Tudo tem significado? e os duplos significados? porque carga de água a mesma coisa tem de "ser" duas?
Porquê que a água significa vida?
Por virmos da água?
Sim é capaz de haver na constituição química do liquido ameniótico água, mas é só agua?
Se não é porque lhe damos esse nome?
Vermelho!
O que é que associamos a esta cor?
Paixão? Dor? O Clube? Sangue?
Super mulher.
Algo do qual já ouvimos falar certo?
Uma heroína da Marvel.
Uma mulher não pode ser uma super mulher?
Há, mas aos olhos da sociedade pode nem ser considerada mulher.
"Rapariga jovem salva...." "a super mulher que salvou..." mas... mas não é maior de idade.
Mas é mulher? Será a idade um factor que possa determinar a "maturidade" ?
Quantas e quantas pessoas são "maiores" e não são homens ou mulheres?
Com atitudes de criança, num corpo adulto, vistos por todos como seres responsáveis.
O que significa isto tudo?

Querido Diário.

Hoje faz um ano que estamos juntos, sim tu e eu.
Faz um ano que confiei em ti e despejei tudo o que tinha dentro de mim.
(perdi-me entre conversas com contadores de historias, entre ideias e a tentativa de ouvir o meu tio)
Mas já me lembro o que te tinha para contar.
Sai do banho a pouco tempo, este foi o segundo banho do dia.
Não que precisasse de dois, não me sujei de modo a ter de o fazer, não os tomei devido ao calor, mas por me sentir suja.
Não por fora, por dentro.
A água escore-me pelo corpo, sinto e não a sinto.
Eu sei que não parece normal, talvez não o seja.
Da mesma maneira que o liquido me passa pelos cabelos assim passam as ideias, tal como a água estas mesmas ideias para textos, para resolução de problemas pessoais vão pelo cano.
Agora despido de tudo o que tivera saio do banho pego em ti querido diário e escrevo, não visto as palavras tal como não o faço a mim mesma, deito-me.

A tentativa

Tenho o lápis e a folha, a ideia e a vontade, a arte.
os óculos na mesa pousados, uma linha tento desenhar.

Suspiro, lembro me de quem me disse como começar, ajudou-me imensamente.
"Começa com uma linha"
"como?"
"Pega numa folha, num lápis e começa xD"
e foi assim.
Só com uma linha á minha frente começo a ver outras.
Um novo mundo abre-se diante dos meus olhos, sorrio.
Passaram só alguns segundos e tudo desapareceu.
Só uma linha ilustrava a folha.
E foi assim que ficou.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

3.30 a.m


Acordo, não devido ao calor, aos cães estarem a ladrar na rua, não pela falta da presença de outro corpo junto do meu, não por falta de sono, não por vontade de fumar, beber, comer, masturbar-me ou qualquer outro desejo/necessidade carnal/material saciável a estas horas.
Também não acordei para escrever.
Senti algo dentro de mim, a correr me nas veias, não sei o que é, mas sei que é rápido.
Como um veneno alastrou-se rapidamente, sim, foi isto que me acordou.
Uma sensação á qual já estou um pouco habituado chegou-me agora. Tal como um autocarro á paragem. Fez barulho de maneira a que pudesse reparar nele. Déjá vu.
Todo este momento é me estranhamente familiar, ser tarde, estar despido, sentado, a escrever.
Espirro, vejo uma melga levantar voo, não é que tenha medo delas, mas evito ser picado não que seja alérgico, mas fico com umas “babas enormes”.
Para meu espanto, não se aproximou desta vez.
Esperei, olhando e seguindo os seus movimentos.
Mas não, nada, são agora 4 da manha. O meu sangue passara a ser amargo.
Começara agora a transformação, tudo começa por dentro...

Fuck!

Sinto como se uma porta que guarda todas as palavras do mundo estivesse prestes a ceder a pressão por elas feita.
Tudo o que quero para mim esta cada vez mais distante.
Dentro de mim é como se uma diarreia de ideias raiasse.
Tonturas, má disposição, falta de vontade, quero desaparecer.
Mas tenho tantos temas na cabeça, não me sai nada, ainda a uns tempos vivia nas nuvens, sentia me bem, mesmo muito bem.
Parecia que todos os dias eram bons dias…
Fuck all this!
Estou farto, hoje digo alto, não me importo com o que vem a seguir.
Hoje revolto-me, monto tudo e desmonto o que tenho mal montado dentro e fora de mim, mudo, cresço.
Perco-me dentro das minhas ideias, dentro da porta algumas palavras saem, entre elas, fuck!
Fuck all this! It’s all what I have to say in this moment.
As outras, formam o texto que aqui posto.

sábado, 3 de julho de 2010

O Deus mortal

As nuvens abaixo dos meus pés derretem, de deus a mortal sou “promovido”
Minha clara pele começa a rasgar-se sinto sim uma dor mortal desta vez, percebo o que sofrem, choro.
Meus olhos azuis esverdeados dão lugar aos vulgares tons de castanho, em quanto choro o tom dos meus olhos formam um novo rio, ao lado da minha antiga pele agora caída que formara montanhas.
Loiros cabelos perdem se no vento formando uma tempestade.
Sou despido das minhas vestes, caio.
Uma aldeã recolhe-me, trata me das feridas, quando acordo sobre uma cama de colchão de palha estou, Ela sentada num banco ao meu lado, de pano branco na mão limpando me a testa.
Sorriu-me ao ver que acordara, quando ia para falar pousou o seu dedo sobre a boca.
Respeitei o sinal, fecho os olhos, sonho com as possibilidades que tenho agora por ser mortal.
Acordo sobressaltado. O que se passou? As lágrimas começam a cair ao reconhecer o quarto.
Não havia sido um sonho, ou se era, era o sonho mais real que havia tido em toda a minha vida.
A luz matinal entra pela janela pequenina contida no quarto. Paredes em terra e pedra, uma vela agora apagada em cima da mesa-de-cabeceira, uma mesa em madeira com duas gavetas, sinto o cheiro a algo, algo novo!
Olhando para a esquerda reparo que perto da porta tenho um“presente”apreso-me a vesti-lo.
(As feridas da violenta queda pareciam ter desaparecido).
Enquanto o fazia quem me acolhera batera á porta, não consegui dizer uma única palavra, fazer qualquer som, Ela entrou.
Num misto de vergonha e violação de privacidade, Ela vira-se, pede desculpa, sai do quarto.
“ Estava corada! Eu vi, tem uns cabelos tão belos! Dum castanho misturado com as cores quentes que os felinos albergam na sua pelagem. Estava descalça, uma veste branca, com um pouco do ombro a ver-se, o cheiro. Esse ainda paira no ar, tal como estas imagens, tudo parece lento”.
Por fim acabo de me vestir, o que parece ter durado muito tempo.
Organizo as ideias, saio do quarto.
Ela estava sentada sobre um tapete na sala onde eu entrara, tocava numa lira, conhecia bem o instrumento.
Naquele momento como a pouco tudo parecia lento, os dedos a passar pelas cordas, o olhar dela na minha direcção, o seu cheiro a pairar na atmosfera que se estava a formar.
O ritmo cardíaco aumentou, senti um arrepio, ela parou de tocar, olhou pela janela daquela sala. Com a cabeça virada para a minha direita a um metro de distância de mim, naquele tapete, inspirou fundo, soltou o ar que tinha nos pulmões olhou para mim.
Com um gesto pediu para que me senta-se ao seu lado, assim fiz.
Contou-me como me tinha encontrado, que me tinha dado uns curativos feitos por ela, onde estava, o tempo que passei deitado.
Pegou-me na mão, perguntou-me quem era, a julgar pelas feridas parecia que tivera recentemente entrado em confronto com algo ou alguém ou que tivera estado preso cativeiro.
“Não posso contar a verdade! Quem iria acreditar? Provavelmente iria considera-me louco! “
-David, o meu nome é David, prisioneiro de guerra, estive em cativeiro ate que fui liberto…ainda não tive tempo de lhe agradecer a hospitalidade.
É provável que seja verdade - pensou ela.
O silencio apoderou se da sala, de nós, do tempo.
Por fim perguntou-me:
-Tem alguém conhecido por aqui? Esta muito longe de sua casa? Tem um sítio onde ficar? Posso tê-lo em casa até amanha de manhã se quiser.
“Agradecido acenei com a cabeça, sorri e perguntei”
Posso ajuda-la com algo? “De certo que haveria algo que pudesse fazer como sinal de agradecimento”
Ela sorriu, acenou com a cabeça e pediu-me que descansasse.
Assim fiz. Voltei ao quarto de onde havia saído, despi as vestes que me haviam sido entregues e deitei-me.
Acordo com alguém a bater a porta, palavras rudes ecoam pelas paredes, ouço-a falar com alguém, levanto me visto-me dirijo-me á entrada do quarto.
Dois soldados com espada em punho apontam para ela, instintivamente “salto” para a frente deles, sinto o medo a crescer dentro de mim como se fosse fogo, tudo começa com uma faísca… dou por mim no chão com um corte no braço, não muito profundo mas perdera bastante sangue. A adrenalina passara começava agora a sentir a dor dos acontecimentos.
Sem saber bem porquê experimentei uma nova sensação muito idêntica há de perder a qualidade de Deus. Desmaio
Acordo, deitado, mais uma vez Ela estava no quarto, desta vez sentada aos pés da cama. A olhar pela janela, o sol brilhava, as aves cantavam, os rios corriam, e o seu cheiro pairava no ar.
Como gosto de senti-lo, é como a água a descer pela garganta, como as rosas a desabrocharem, como o sol a sobrepor-se á Lua é como o canto de um pássaro exótico.
Não sei o seu nome, por isso trato-a por menina, parece me mais nova que eu, de certo que é, já fui um Deus em tempos, vida eterna…
Ela vira-se, olha-me nos olhos. Entendo o olhar, penso eu, pergunta-me porque agi assim.
Não a percebo muito bem, olho pela janela, percebo ao ver dois montes de terra no meio do verde campo.
Ela conta-me o porquê de ter ameaças como a que eu vira há pouco, Ela é considerada meio deusa devido há ligação que tem com a natureza, dai fazer com que os humanos vivam mais tempo, fazendo curativos com plantas campestres. Mostra-me o seu descontentamento perante o acto que eu cometera. Abandona o quarto, deixa-me uma refeição a porta.
Passados uns minutos, entra pelo quarto, examina-me o braço.
Pega nas roupas atira-as para cima da cama, pede me que as vista, assim o faço, leva me pelo braço para fora de casa. Um novo mundo!
Os olhos demoram um pouco a habituar se a luz, começo a ver montes, vales, um rio azul esverdeado, sinto me bem, feliz, como se isto me fosse familiar mas ao mesmo tempo totalmente desconhecido.
Sem saber bem o que dizer simplesmente sorrio.
O meu sorriso é correspondido, partilhamos a mesma felicidade.
-Mariana, o meu nome é Mariana - disse Ela - Não é lindo?
-Sim! Nunca havia estado em sítio semelhante.
-Sinto me bem aqui, apesar se só, sinto me bem. Para ser sincera não gosto muito da polis.
-Do local onde venho não há polis. Somos muito poucos, muito unidos.
-Tem saudades? Digo saudades dos seus, da sua terra?
“Sinto que posso confiar nela, mas será que faço bem?”
-Sim, tenho. Mas neste momento estou feliz, sinto-me bem e gostava de ficar assim.
O vento sopra pelas árvores, os peixes saltam no rio, um certo silêncio habita os nossos corações.
Sentem ambos a respiração sincronizada, sinto a terra debaixo dos meus pés ganhar vida, ao longe novas flores brotam da terra, as raízes das árvores movem-se, a terra respira e suspira.
Rodo sobre os calcanhares numa tentativa de dizer algo que para mim é importante mas retenho esse pensamento.
Ela tinha os cabelos soltos, para o vento dançavam, cantavam, e sorriam!
Uma felicidade crescente passava dEla para ele como a sua visão passava por este pedaço de paraíso, que bela paisagem eles tinham á sua frente.
Nas terras de Mariana os animais corriam livres, os coelhos saltavam, os veados corriam, as aves de rapina voavam.
O tempo ia passando e há medida que este passava, iam partilhando o que tinham, sentiam.
 Agora com o sol a pôr-se estavam deitados na relva, observaram juntos as nuvens vermelhas, sol a desaparecer, nessa noite não jantaram, os Deuses haviam montado um banquete para eles e estavam mais que saciados.
A Deusa Vénus aparecera no céu nocturno trazendo consigo muitas estrelas, a lua aparecera, deitados a olhar um para o outro com o corpo totalmente relaxado e esticado nos verdes campos sentiram Cupido tocar-lhes no rosto e então naquela noite o Amor saiu dos corpos.
Estes dois amaram-se pela noite dentro, sentiam-se tão ligados como irmãos, como uma árvore está ligada á terra, como a terra ao mar.
O dia nasceu, Apolo trouxera consigo a luz, o calor, a vida.
Um leve e fino manto de ceda cobria os corpos nus, o verde campo crescera por debaixo deles.
Oh Deus mortal dá graças por cada dia da tua nova vida, pois tu tens tudo, és o que todos os Deuses ambicionam ser, sentiste dor, paixão, foste amado, poeta, louco, guerreiro, impulsivo.
Entrelaçados encaracolados cabelos puxam um sorriso, com a cabeça no colo dEla ele diz o quanto a ama, Ela sorri, beijam-se e a nova vida começa.
A vida de um deus que se tornou mortal, e que tal acontecimento fora o que de melhor poderia ter acontecido.