sexta-feira, 1 de junho de 2012

A pena verde


Saio pela porta, desço as escadas, dobro o prédio, caminho, navego, pela calçada rumo à escola.

Nada trago na mochila, mala, sacola
que não seja a pauta e a viola.
Troco os lápis do estojo pelas cordas
os livros da mala pelo instrumento
caminho pela rua com um passo estudado e lento.

Pelo caminho observo aves verdes, não naturais de Portugal
fazendo ninhos onde outrora havia quinta e olival.
Por vezes aos pares, como namorados, passam por cima de mim
e é ai, bem lá no alto, olhando o asfalto, que sinto falta de ti.

Tento libertar-me pela escrita, mas até as palavras estão presas ao papel.
Com a calçada fria, o sol a bronzear-me a testa e os pinheiros que libertam o pólen dourado pelo sol
vejo carros, autocarros, motas e bicicletas, pouca gente anda a pé.

As verdes criaturas voadoras estão agora longe e eu mais próximo de transpor as grades, grades estas que vêem noite e dia a zebra ser atropelada, pisada.
Grades estas que não guardam, nada fazem.

É aqui que a viagem termina, é aqui que em comunhão com o resto da tripulação passo quatro a cinco horas por dia, cinco dias por semana.

É aqui que o rio do conhecimento nasce, é aqui que eu deixo para trás o barco e me entrego à corrente.

1 comentário:

  1. O mar não tem fim, tem apenas várias nascentes que o suportam e o ajudam a crescer cada vez mais...
    O o barco navega no mar, mas mesmo assim és tu quem o comanda...

    Não te guies pela maré, "impele a tua própria canoa"

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